quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Entrevista com Dra Fátima Oliveira sobre o Sus
Entrevista com a Dra Fátima Oliveira sobre o Sus e a Mídia
ENTREVISTA: “Se você tinha um cavalo, você valia um cavalo quando adoecia”

Fátima Oliveira, coordenadora do plantão do Hospital de Clínicas da UFMG
Themys Cabral
Ela desistiu de pintar os cabelos e resolveu deixar os fios brancos em paz. O povo anda criticando, mas ela não está nem aí. Sabe que as madeixas brancas têm história para contar. Uma história, aliás, que ela mesma tem orgulho de contar. Pudera. É a história de uma mulher, negra, que ajudou a construir o SUS, o Sistema Único de Saúde no Brasil. E ela não tem falsa modéstia em relação a isso. “Eu conheço cada palmo deste chão. Quando eu digo que vi o SUS nascer, é porque eu realmente vi o SUS nascer”. Fátima Oliveira é assim.
Já correu atrás de assinatura para emenda popular constitucional em 1988, lutou pelo acesso universal à saúde, militou (e milita) nos movimentos feministas e negro e resolveu, como médica, há dez anos, que fincaria o pé apenas no pronto-socorro. Esqueceu o ambulatório. Com 58 anos de idade e 35 de profissão, ela diz que gosta mesmo é da rotina de plantões na emergência: resolver o que pode ser resolvido, sem frustrações para o amanhã com pacientes que não melhoraram porque não conseguem comprar remédio para o tratamento prescrito.
Fátima, uma das 50 mulheres brasileiras indicadas para o Nobel da Paz, em 2005, dá plantão três vezes por semana no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Nas horas restantes, é escritora. Tem uma coluna semanal num jornal mineiro, um blog e quase uma dezena de livros publicados. E como não bastasse tudo isso, resolveu abraçar outra função há anos: análise de mídia. Ela foi a organizadora do livro “Olhar sobre a mídia”, que analisa a cobertura na área de saúde. Em entrevista à Gazeta do Povo, Fátima critica a cobertura que a imprensa faz do SUS. “A mídia é retardatária”, afirma. Veja os principais trechos da entrevista.

O SUS é um sistema bastante criticado. Como a sra. o avalia?
Eu não troco um dia de SUS de hoje, por pior que ele seja, por um da era pré-SUS. E eu tenho motivos para isso. Meu avô costumava dizer que antes do SUS eram os nossos bichos que nos salvavam na doença. Quanto eu tinha 12 anos, tive febre tifóide. Não tinha médico na cidade em que eu morava, no interior do Maranhão. Quem atendia era um farmacêutico chamado dr. Osano. Eu me lembro até hoje do dia que eu escutei ele falando que eu ia morrer. Mas depois eu fiquei boa. Eu lembro de a vovó dizer assim: “abaixo de Deus o dr. Osano, que salvou a vida da minha neta”. E do meu avô responder: “E as minhas seis vacas que eu usei para pagar ele.”
Pagava-se o atendimento com os bichos que se tinha...
Meu avô dizia que se você tinha um cavalo, você valia um cavalo quando adoecia, porque era o que você tinha para vender para se tratar. Quantas vezes a gente ouvia assim: “A fulana vendeu umas galinhas para levar as filhas dela ao médico, vendeu os porcos”. Era assim, porque era longe e sempre particular. Se não tinha como pagar, morria-se absolutamente à míngua.
Como funcionava o sistema de saúde na época?
No período pré-SUS, tinha o Inamps. Todo trabalhador com carteira assinada tinha direito a uma carteira do Inamps. Quem não tinha carteira profissional assinada era indigente.
Sem carteira do Inamps, se não pudesse pagar atendimento particular, ficava sem?
Ficava. Nas capitais você até tinha pronto-socorros municipais/estaduais para os indigentes ou hospitais filantrópicos que os atendiam. Muitas mães, com o filho muito doente, levavam a carteirinha de outra criança, pegavam emprestado de uma vizinha, uma amiga. Se o fiscal do Inamps descobrisse, entretanto, que uma carteirinha era falsa, punia o hospital e não pagava aquela conta. E o hospital punia aquela mãe, querendo obrigá-la a pagar. Dava alta para a criança e a mandava embora. Não importava se tivesse em risco.
Como aconteceu a universalização da saúde?
Quando eu digo que vi o SUS nascer, é porque eu vi. Eu conheço cada palmo desse chão mesmo. Em 88, havia uma mobilização grande para que a Constituição da República incorporasse o ideário do SUS. Era para isso que os militantes da reforma sanitária batalhavam. E essa luta pela saúde e pela reforma sanitária foi muito importante na redemocratização do país. Nós conseguimos escrever na Constituição Brasileira: “Saúde é direito de todos e dever do Estado”. Eu acho que foi uma das maiores vitórias do movimento social de toda a história do Brasil.
Na sua opinião, quais os principais problemas do SUS?
O SUS é uma coisa em construção. Uma conquista que precisa ser concretizada cotidianamente. Temos problemas de gerenciamento, de incompreensão política dos governos, incompreensão dos usuários que usam o pronto-socorro até para o espirro.
Outro problema: dá uma enorme irritação imaginar que às 5 horas todo lugar que faz consulta na rede pública neste país está fechado. Eu sou uma defensora intransigente do terceiro turno no setor de saúde, tanto em postos, como em ambulatórios. Se eles funcionassem à noite, as pessoas não precisariam faltar ao trabalho para fazer uma consulta. Você ampliaria o número de consultas e geraria empregos.
O dinheiro para saúde não é pouco?
Eu acho que ele é pouco para fazer tudo o que a gente quer, como se o SUS fosse um sistema pronto e acabado. Dinheiro para saúde no Brasil é muito. O problema é que ele não chega à ponta, onde tem de chegar. Outro problema é que a maioria dos governos estaduais e municipais quer fazer SUS só com dinheiro do governo federal. Está na Constituição que os “caras” devem aportar dinheiro e que o SUS é tripartite, com recurso de três esferas. Agora, foi votada a Emenda 29: 12% dos estados, 15% dos municípios e o governo federal não chega a 10% do PIB [Produto Interno Bruto], por causa daquela conta maldita lá. Mas eu acho que é melhor do que nada. Está resolvido. Vencemos esta batalha, vamos para outras.
Como a sra. avalia a cobertura da mídia em relação ao SUS?
Que a mídia sataniza o SUS. Como estudiosa de mídia, eu tenho elementos para dizer. No geral, a mídia é sempre retardatária. Ela corre atrás da notícia. O falar mal do SUS é muito patente. A mídia está sempre do lado contra quando tem uma votação para ir mais dinheiro para o SUS. Ela não quer que o SUS tenha mais dinheiro. Foi assim com CPMF, ou com qualquer projeto. A mídia teve também um papel decisivo na ampliação dos planos de saúde no Brasil, dourando a pílula. Os planos de saúde venderam uma coisa que eles não tinham. Venderam tanto que agora deu “crap”. Mas uma cobertura magnífica foi na época da pílula de farinha[em 1998]. Ali foi o grande momento da mídia brasileira, que investigou, foi atrás.



A sra. já falou que não troca a rotina do pronto-socorro...
Eu amo trabalhar em urgência. Eu nunca larguei de trabalhar em pronto-socorro nestes 35 anos que eu sou médica. E nos últimos dez eu só trabalhei em pronto-socorro.
Por quê?
Eu comecei a ficar cansada do ambulatório, daquela coisa de atender diabético, asmático, hipertenso. Aí eles voltam e não compraram o remédio. Meu carro era o tempo todo cheio de amostra grátis. Aquele negócio foi me cansando. As pessoas não melhoram porque não tomam remédio, porque têm uma vida desgraçada. No pronto-socorro, eu trabalho 12 horas, mas, quando eu chego em casa, eu durmo, porque tudo o que eu podia fazer por aquela pessoa que foi atendida na urgência, eu fiz. E saio com a consciência absolutamente tranquila. Eu resolvi não me culpar mais por aquilo que não era culpa minha: as pessoas não terem condições de fazer seus tratamentos.
A sra. foi uma das brasileiras indicadas ao Nobel da Paz. Como foi isso?
Em 2005, houve uma mobilização mundial para a indicação de mil mulheres ao Nobel da Paz. Cada país tinha uma cota de mulheres para serem indicadas e a cota do Brasil era 50. E eu fui uma das 50. Acho que foi uma indicação que considerou a minha história de vida, de militância feminista, no movimento negro, na luta pelo SUS.
Themys Cabral
Editora do Núcleo de Saúde
GRPCOM – Grupo Paranaense de Comunicação
41 3321.5316
www.gazetadopovo.com.br
Publicado em 19.12.2011 FONTE: Gazeta do Povo, Curitiba- Paraná
LEIA TAMBÉM:
Filosofando sobre "Mídia e saúde: quando o SUS vira notícia" 14ª CNS: Comunicadores da Saúde debatem o SUS + Ti-ti-ti no twitter sobre a Oficina Diálogos Saúde e Mídia
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
O IMORTAL IMORAL
O Imortal imoral
Essa é boa, só rindo prá não chora. E no atual estado de espírito quer estou hoje até que serviu para provocar alguns frouxos de risos em mim.
Vejamos: O jornalista Merval Pererira que está na Academia de Letras sem nunca ter escrito um livro se quer - apenas uma coletânia de artigos em o Globo – até hoje se vangloria por ter participado de uma reportagem sensacional que tinha Amaury como autor juntamente com outros jornalistas, e ele apenas diretor da sucursal de jornalismo, hoje, como um capacho, servindo aos interesses de quem o paga tem a petulância de criticar o livro “A Privataria Tucana” falando mal do Amaury um dos jornalistas que o fez imortal. Vá ser Imoral assim nos raios que o partamwww,guidaporguida.blogspot.com
CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS
Segunda-feira, 19 de dezembro de 2011 às 9:06
Presidenta Dilma afirma que Ciência sem Fronteiras é impulso inédito para formação científica e tecnológica dos jovens talentos
O programa Ciência sem Fronteiras, que terá R$ 3,2 bilhões em investimentos do governo federal, é um impulso inédito para a formação científica e tecnológica dos jovens brasileiros, avaliou hoje (19) a presidenta Dilma Rousseff no programa Café com a Presidenta.
Ela lembrou que o governo vai oferecer 75 mil bolsas de estudos até 2014 para que jovens talentos possam estudar nas melhores universidades do mundo. Além do investimento público, acrescentou a presidenta, uma parceria com empresas e outras instituições já viabilizou a oferta de mais 26 mil bolsas nos próximos anos, totalizando 101 mil bolsas do programa.
Em dezembro, o governo abriu inscrições para selecionar 12,5 mil jovens brasileiros dos cursos de graduação, que vão estudar durante um ano e meio em universidades dos Estados Unidos, da Alemanha, da Itália, do Reino Unido ou da França. Mas, no dia 2 de janeiro, serão abertas mais 500 vagas para o Canadá.
“A necessidade mais urgente do nosso mercado de trabalho é ampliar a formação na área das engenharias, das ciências exatas, das ciências médicas e da tecnologia de informação. Esse é um programa que veio para ficar. Tenho a certeza de que depois desses 101 mil estudantes ou mais, que vamos selecionar até 2014, virão mais outros milhares. Eles vão estudar lá fora e, depois, com os conhecimentos científicos, serão cada vez mais capazes de ajudar o Brasil a ganhar mais produtividade e competitividade. O Ciência sem Fronteiras é um investimento no futuro do Brasil.”
Blog do Planalto
sábado, 17 de dezembro de 2011
Fina Estampa: decadência da civilidade
O Farol de Alexandria FHC sempre arrogante
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Altamiro Borges: A força relativa do partido midiático
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Maria Guidah Almeida: os caras de Pau
SALVADOR COM AMOR: Do lixo ao vício
domingo, 4 de dezembro de 2011
Altamiro Borges: Sócrates, bom de bola e de cabeça
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
DESABAFO DE UMA MÃE ROCEIRA
domingo, 25 de setembro de 2011
Altamiro Borges: Jô Soares critica ditadura da TV Globo
sábado, 17 de setembro de 2011
A Burocracia de Mãos dadas com a Estupidez
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
MINHA SOGRA, EXEMPLO DE AMOR
que saibamos que a única coisa que temos certeza nesse mundo é que um dia
vamos morrer, a sua partida mexeu
demais com as minhas emoções, pois, para mim, minha sogra querida, foi ainda
mais doloroso, porque a minha mãe embora
ainda esteja nesse mundo, há muito que se esconde dele. Então, aprendi a
fazer de conta que todas as vezes que você me beijava ou me pedia um
beijo eu pensava em minha mãe e achava que Deus na sua infinita sabedoria me
permitia nesses momentos sentir através dos seus lábios a doçura do
beijo que ela já não podia mais me dar. Eu
vivenciava nesses momentos as minhas fantasias com muita intensidade. Quando
você me abençoava e me dizia Jesus que te proteja e te acompanhe eu me sentia duplamente protegida. Que maravilha! Que bom que era essa sensação de
proteção! E fui me acostumando a usar
você, e que gostoso que era ouvi-la me
pedir um beijo e receber ao mesmo tempo o seu . Fica agora essa vacância de bênçãos em mim, porque de uma só vez perdi
as carícias e as palavras tão doces balbuciadas por você imaginando também que a minha mãe as estivesse naqueles momentos me afortunando de tantas
graças, e o seus beijos que me trazia à realidade gostosa quando sentia o rosto lambuzado pelos seus lábios já tão trêmulos por
conta da vida longa - mais de um século
vivido com qualidade, é muita
permissão Divina!
que eu, mas encerra-se com a sua morte, essa doce fantasia. Não posso mais
brincar de faz-de-conta e receber o beijo dela através de você. Só me resta agradecer-lhe todas as bênçãos e
as palavras de felicidade que você desejava para mim, e, de
onde você estiver, ouve o meu muito obrigada e sinta o beijo mais saudoso dessa sua nora .
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Amiga Bandida
pouco triste, não consegui ir ainda para minha casa isso me deixa
arrasada. É muito bom ver os filhos e estar com os netos, mas quando
percebemos que a nossa presença não é bem vinda, dói que nem doce
quente no buraco do dente e amarga que nem milome. Você já provou uma branquinha
de milome? Arre égua,!!! Desce queimando
tudo e amarga muito Xexé kkkkk
família e nós passamos a ser meros hóspedes nas suas casas e você sabe,
hóspede é bom quando passa poucos dias na sua casa ou quando tem dinheiro
para pagar os ovos que os anfitriões quebram para fartarem-se de omeletes kkkkk Entendeu?
seria uma hóspede omelete,
dá é preciso engolirmos uns sapinhos, seja lá de que espécie ou
tamanho for. Ah se eu tivesse um cartão de crédito com limite
ilimitável!!! Com que facilidade
eu seria engolida,!!! Poderia ser até um sapo Aru, aquele asqueroso que vive na Amazônia
Também é chamado de Mensageiro- fortuna
mas eu precisava espantar a tristeza e como hoje é o dia do amigo
estou lhe provando a minha total amizade com esse desabafo .
quarta-feira, 20 de abril de 2011
E... Alice

terça-feira, 19 de abril de 2011
A Trincheira de Jean Willys
A trincheira de Jean Wyllys
Por Leandro Fortes
Jean Wyllys de Matos Santos é um sujeito tranquilo, bem humorado, que defende idéias sem alterar a voz, as mais complexas, as mais simples, baiano, enfim. Ri, como todos os baianos, da pecha da preguiça, como assim nomeiam os sulistas um sentimento que lhes é desconhecido: a ausência de angústia. Homossexual assumido, Jean cerra fileiras no pequeno e combativo PSOL, a única trincheira radical efetivamente ativa na política brasileira. E é justamente no Congresso Nacional que o deputado Jean Wyllys, eleito pelos cidadãos fluminenses, tem se movimentado numa briga dura de direitos civis, a luta contra a homofobia.
Cerca de 200 homossexuais são assassinados no Brasil, anualmente, exclusivamente por serem gays. Entre eles, muitos adolescentes.
Mas o Brasil tem pavor de discutir esse assunto, inclusive no Congresso, onde o discurso machista une sindicalistas a ruralistas, em maior ou menor grau, mas, sobretudo, tem como aliado as bancadas religiosas, unidas em uma cruzada evangélica. Os neopentecostais, como se sabe, acreditam na cura da homossexualidade, uma espécie de praga do demônio capaz de ser extirpada como a um tumor maligno. O mais incrível, no entanto, não é o medievalismo dessa posição, mas o fato de ela conseguir interditar no Parlamento não só a discussão sobre a criminalização da homofobia, mas também o direito ao aborto e a legalização das drogas. Em nome de uma religiosidade tacanha, condenam à morte milhares de brasileiros pobres e, de quebra, mobilizam em torno de si e de suas lideranças o que há de mais lamentável no esgoto da política nacional.
Jean Wyllys se nega a ser refém dessa gente e, por isso mesmo, é odiado por ela. Contra ele, costumam lembrar-lhe a participação no Big Brother Brasil, o inefável programa de massa da TV Globo, onde a debilidade humana, sobretudo a de caráter intelectual, é vendida como entretenimento. Jean venceu uma das edições do BBB, onde foi aceito por ser um homossexual discreto, credenciado, portanto, para plantar a polêmica, mas não de forma a torná-la um escândalo. Dono de um discurso política bem articulado, militante da causa gay e intelectualmente superior a seus pares, não só venceu o programa como ganhou visibilidade nacional. De repórter da Tribuna da Bahia, em Salvador, virou redator do programa Mais Você, de Ana Maria Braga, mas logo percebeu que isso não era, exatamente, uma elevação de status profissional.
Na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys, 36 anos, baiano de Alagoinhas, tornou-se a cara da luta contra a homofobia no Brasil, justamente num momento em que se discute até a criminalização do bullyng. Como se, nas escolas brasileiras, não fossem os jovens homossexuais o alvo principal das piores e mais violentas “brincadeiras” perpetradas por aprendizes de brucutus alegremente estimulados pelo senso comum. Esses mesmos brucutus que, hoje, ligam para o gabinete do deputado do PSOL para ameaçá-lo de morte.
Abaixo, a íntegra de uma carta escrita por Jean ao Jornal do Brasil, por quem foi acusado, por um colunista do JB Wiki (seja lá o que isso signifique), de “censurar cristãos”. O texto é uma pequena aula de civilidade e História. Vale à pena lê-lo:
Em primeiro lugar, quero lembrar que nós vivemos em um Estado Democrático de Direito e laico. Para quem não sabe o que isso quer dizer, “Estado laico”, esclareço: O Estado, além de separado da Igreja (de qualquer igreja), não tem paixão religiosa, não se pauta nem deve se pautar por dogmas religiosos nem por interpretações fundamentalistas de textos religiosos (quaisquer textos religiosos). Num Estado Laico e Democrático de Direito, a lei maior é a Constituição Federal (e não a Bíblia, ou o Corão, ou a Torá).
Logo, eu, como representante eleito deste Estado Laico e Democrático de Direito, não me pauto pelo que diz A Carta de Paulo aos Romanos, mas sim pela Carta Magna, ou seja, pelo que está na Constituição Federal. E esta deixa claro, já no Artigo 1º, que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana e em seu artigo 3º coloca como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A república Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos Direitos Humanos e repúdio ao terrorismo e ao racismo.
Sendo a defesa da Dignidade Humana um princípio soberano da Constituição Federal e norte de todo ordenamento jurídico Brasileiro, ela deve ser tutelada pelo Estado e servir de limite à liberdade de expressão. Ou seja, o limite da liberdade de expressão de quem quer que seja é a dignidade da pessoa humana do outro. O que fanáticos e fundamentalistas religiosos mais têm feito nos últimos anos é violar a dignidade humana de homossexuais.
Seus discursos de ódio têm servido de pano de fundo para brutais assassinatos de homossexuais, numa proporção assustadora de 200 por ano, segundo dados levantados pelo Grupo Gay da Bahia e da Anistia Internacional. Incitar o ódio contra os homossexuais faz, do incitador, um cúmplice dos brutais assassinatos de gays e lésbicas, como o que ocorreu recentemente em Goiânia, em que a adolescente Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, que, segundo a mídia, foi brutalmente assassinada por parentes de sua namorada pelo fato de ser lésbica. Ou como o que ocorreu no Rio de Janeiro, em que o adolescente Alexandre Ivo, que foi enforcado, torturado e morto aos 14 anos por ser afeminado.
O PLC 122 , apesar de toda campanha para deturpá-lo junto à opinião pública, é um projeto que busca assegurar para os homossexuais os direitos à dignidade humana e à vida. O PLC 122 não atenta contra a liberdade de expressão de quem quer que seja, apenas assegura a dignidade da pessoa humana de homossexuais, o que necessariamente põe limite aos abusos de liberdade de expressão que fanáticos e fundamentalistas vêm praticando em sua cruzada contra LGBTs.
Assim como o trecho da Carta de Paulo aos Romanos que diz que o “homossexualismo é uma aberração” [sic] são os trechos da Bíblia em apologia à escravidão e à venda de pessoas (Levítico 25:44-46 – “E, quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das gentes que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas…”), e apedrejamento de mulheres adúlteras (Levítico 20:27 – “O homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiticeiro, certamente será morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles…”) e violência em geral (Deuteronômio 20:13:14 – “E o SENHOR, teu Deus, a dará na tua mão; e todo varão que houver nela passarás ao fio da espada, salvo as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o SENHOR, teu Deus…”).
A leitura da Bíblia deve ensejar uma religiosidade sadia e tolerante, livre de fundamentalismos. Ou seja, se não pratica a escravidão e o assassinato de adúlteras como recomenda a Bíblia, então não tem por que perseguir e ofender os homossexuais só por que há nela um trecho que os fundamentalistas interpretam como aval para sua homofobia odiosa.
Não declarei guerra aos cristãos. Declarei meu amor à vida dos injustiçados e oprimidos e ao outro. Se essa postura é interpretada como declaração de guerra aos cristãos, eu já não sei mais o que é o cristianismo. O cristianismo no qual fui formado – e do qual minha mãe, irmãos e muitos amigos fazem parte – valoriza a vida humana, prega o respeito aos diferentes e se dedica à proteção dos fracos e oprimidos. “Eu vim para que TODOS tenham vida; que TODOS tenham vida plenamente”, disse Jesus de Nazaré.
Não, eu não persigo cristãos. Essa é a injúria mais odiosa que se pode fazer em relação à minha atuação parlamentar. Mas os fundamentalistas e fanáticos cristãos vêm perseguindo sistematicamente os adeptos da Umbanda e do Candomblé, inclusive com invasões de terreiros e violências físicas contra lalorixás e babalorixás como denunciaram várias matérias de jornais: é o caso do ataque, por quatro integrantes de uma igreja evangélica, a um centro de Umbanda no Catete, no Rio de Janeiro; ou o de Bernadete Souza Ferreira dos Santos, Ialorixá e líder comunitária, que foi alvo de tortura, em Ilhéus, ao ser arrastada pelo cabelo e colocada em cima de um formigueiro por policiais evangélicos que pretendiam “exorcizá-la” do “demônio”.
O que se tem a dizer? Ou será que a liberdade de crença é um direito só dos cristãos?
Talvez não se saiba, mas quem garantiu, na Constituição Federal, o direito à liberdade de crença foi um ateu Obá de Xangô do Ilê Axé Opô Aforjá, Jorge Amado. Entretanto, fundamentalistas cristãos querem fazer uso dessa liberdade para perseguir religiões minoritárias e ateus.
Repito: eu não declarei guerra aos cristãos. Coloco-me contra o fanatismo e o fundamentalismo religioso – fanatismo que está presente inclusive na carta deixada pelo assassino das 13 crianças em Realengo, no Rio de Janeiro.
Reitero que não vou deixar que inimigos do Estado Democrático de Direito tente destruir minha imagem com injúrias como as que fazem parte da matéria enviada para o Jornal do Brasil. Trata-se de uma ação orquestrada para me impedir de contribuir para uma sociedade justa e solidária. Reitero que injúria e difamação são crimes previstos no Código Penal. Eu declaro amor à vida, ao bem de todos sem preconceito de cor, raça, sexo, idade e quaisquer outras formas de preconceito. Essa é a minha missão.
Jean Wyllys (Deputado Federal pelo PSOL Rio de Janeiro)
sábado, 16 de abril de 2011
E Se Narciso Fosse Feio?
Se Narciso era bonito? Não sei. Só
sei que daqui prá frente tudo vai ser diferente permita-me majestade o uso da sua frase - a partir
desse álbum narcisista que postei recentemente - tudo novo. Assumo de vez as imposições do tempo - as rugas fincadas no meu rosto, o queixo caído, a pele flácida, o corpo cheinho,.. Mas tudo meu, tudo de verdade, nada de truques. Essas esculturas feitas em meu corpo ao longo dos anos me apavoravam e me faziam travar uma luta desleal entre o Tempo e o Fotoshop - Atenção senhores autores esse tema dá um filme. Comecei a me sentir mal comigo mesma. Enganar aos outros é indecente, enganar-se a si próprio é abominável. Isso não é da minha personalidade. A idade nunca foi problema para mim. Estou vivendo uma das melhores fases da minha vida, me sinto mais livre e solta do que nunca - talvez o maior encanto de ser idoso. A minha mente rejuvenesce a cada dia que vivo. A única coisa que não vou assumir é quando os meus cabelos embranquecerem muito Ser eu mesma, não é abrir mão do meu gênero feminino. Não é esse o meu propósito. Cabelos brancos só quando todos os fios ficarem de uma única cor. Acho fascinante uma cabeça alva tal qual um novelo! Enquanto isso penso no verde, mas ainda não sei se sou tão forte para enfrentar críticas e preconceitos de pessoas que costumam perder o bonde da história. Mas qual o problema se os vermelhos, azuis lilases, amarelos a muito que já colorem tantas cabeças de mulheres?
Cabelos te quero verdes, Serei eu a primeira sessentona a te adotar?
quinta-feira, 14 de abril de 2011
A Ninhada Bateu Asas
Os filhotes empenaram, aprenderam a voar e foi-se um a um construírem o seu próprio ninho. Do antigo ninho levaram consigo talvez alguns ensinamentos. Mágoas...quem sabe? Decepção? Por quererem atenção só para eles? Amor... É certo. Construíram seus ninhos, e prá lá se foram com eles, novos moradores... E ficou tudo diferente do que era dantes! O meu ninho ficou vazio - o deles? Cheio, mas jamais igual ao que deixaram para trás, e eu procuro alguma coisa por pequenina que seja que lembre o nosso ninho, mas não há! E nem poderia haver. Eu não criei o passarinho grande, tão pouco a “Passarinha" maior! Ah sim... Espera aí... encontrei - que coisa maravilhosa meu Deus! Filhotes empenando-se preparando-se para o dia do grande vôo. Vê-los me leva à lembranças da minha ninhada quando todos brincavam, gorjeavam, bicavam-se, mas se amavam sem barreiras. Mas não são meus, são dos meus passarinhos que se foram. E no caminho enquanto procuravam os galhos e gravetos para fazerem suas novas moradas, acharam coisas que se misturaram às que já tinham e tudo ficou diferente. O meu ninho? Continua aqui, vazio, mas igualzinho desde quando eles partiram, mas os deles Senhor, eu não encontro nada que se pareça ao nosso velho ninho. Forçada a me adaptar com costumes e trilados diferentes, fico eu aqui pensando:
Sou nesses ninhos apenas uma estranha.