segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Apego, esse sentimento tórpido
domingo, 13 de julho de 2008
CARTA À MINHA FILHA SHEILA
Eu precisava te dizer isso
Sheu apesar da sua total falta de amabilidade para comigo, vc nunca vai deixar de ser minha filha. Estou triste pela sua atitude em relação a mim. Aliás, triste não, pq vc não tem poder nenhum para me tirar do meu estado de felicidade. Magoada sim, mas pouco, compreendo os arroubos de tds vcs. Eu liguei para vc do cel de Lica às 17,30 h conforme registro em meu celular, para lhe da os parabéns e Lica me disse q vc tinha saído, mas que voltava logo. Eu pedi p ela dizer a vc q tinha ligado p lhe dar os parabéns, caso eu não conseguisse mais falar com vc. Vale ressaltar q liguei p vc mais ou menos no mesmo horário q coloquei a mensagem no seu orkut. Lamento mto essa atitude de menina mimada coisa q não lhe cabe mais, pois vejo em vc uma jovem senhora, mãe de duas crianças carentes de proteção, que vc vem deixando a desejar no momento que joga tda responsabilidade em uma pessoa doente e que toma remédio controlado precisando inclusive dos cuidados dos filhos já que não tem um companheiro para dividir com ela as intempéries da vida atribulada que leva, agravada pela desarmonia da família. E o q vc faz? Coloca em risco a vida das suas próprias filhas.
Como se não bastasse ao invés de poupar uma criatura com problemas de saúde adquiridos talvez pela frustração de um casamento desfeito, acarretados ainda mais pelas suas irresponsabilidades cometidas no vigor da juventude, continua cometendo despautérios qdo resolve se descontrolar juntamente com seu marido na presença de uma pessoa tão debilitada como sua mãe. Sheu será que vc não consegue enxergar como sua mãe está cadavérica?
Chega Sheu é hora de vc crescer, de deixar sua mãe ter um pouco de paz. O mundo não é ruim com vcs, como li uma certa vez que vc escreveu no MSN que esse mundo era cão. Não, minha filha, vc é quem tem sido ingrata - o demônio é do tamanho que queremos que ele seja - e nunca soube agradecer a Deus as benesses recebidas desse mundo. Se não vejamos:
Vcs têm duas filhas estudando em colégio particular, a maioria dos brasileiros não conseguem pagar um colégio para os filhos. Vcs conseguiram fazer faculdade grátis, beneficiados por programas de bolsas de estudo – Qtos estão fora de uma universidade Vale ressaltar tbm que vc foi contemplada por duas vzs no direito ao ensino superior, o problema foi seu se jogou fora, então não vale dizer q o mundo lhe virou as costas.
Vcs conseguiram que as crianças estudassem perto de casa – qtos precisam pagar transporte para levar seus filhos à escola. Vcs venderam um apto com inúmeras prestações atrasadas quitaram a dívida e com o dinheiro que sobrou bateram uma laje levantaram algumas paredes que terminou por lhes renderem uma importância significativa de cinqüenta mil reais – achou pouco? De um apto vendido por trinta e poucos mil, pagando o que estava atrasado e ainda conseguir tamanha quantia é verdadeiramente um milagre não acha? E mais multiplicação ainda, pois pequeno ou não, ainda lhe restou um espaço para morar sem ter que pagar um centavo de aluguel. São mtas Graças Sheu, só vc que não consegue enxergar por falta de gratidão. Enquanto mtos pais de família estão com a mão na cabeça sem saber como pagar a escola dos seus filhos, o aluguel para morar, vc se lamuria.
Sheu minha filha, eu sei que depois que vc lê esta carta perderei com certeza um amigo e o amor de uma filha, mas não importa, o meu amor é suficientemente grande para suportar toda indiferença e raiva que venha de vcs, só não dava mais para calar e vê um espectro de criatura definhando dia a dia pelas pedras que a própria família vem lhe jogando. Sua mãe hj já não vive mais – vegeta. Não lhe deram o direito à felicidade de saber que os filhos, se não têm o emprego dos sonhos sonhados, ao menos vivem em paz e harmonia. Eu posso falar assim pq já vivi problemas semelhantes, só que entendi que meu tempo aqui nesse mundo era bem menor que o dos meus filhos e eu gosto demais de viver, pois aprendi que Deus nos deu um mundo colorido e nós humanos não temos o direito de pintá-lo de uma cor sombria, posso até pincelá-lo em alguns momentos de cinza ou negro ou até quem sabe de uma única cor, mas sei que na maioria das vezes o colorirei com as cores do arco-íris e pensando assim, resolvi dá um basta, qdo disse não – Eu pleiteei o direito de ser avó, de sentir a alegria de vê-los virem passar as férias comigo e maior alegria ainda a hora de vê-los partirem, pois tinha chegado o meu limite de suportar tanta energia Chega o momento que é melhor conviver com a doce lembrança dos dias de folguedos a ficar nervosa e estressada com barulho, bagunça e correrias próprios da condição da infância. Os filhos são de inteira responsabilidade dos pais, nós, enquanto avós ajudaremos sempre e estaremos sempre à espera das férias para curti-los mais uma vez, mas ocupar todo nosso tempo com neto, é cruel demais Sheila, por mais que tenhamos amor a transbordar é um ato desumano de quem impõe tamanha responsabilidade aos avós. Vc em momento algum procurou equilibrar o peso da responsabilidade de tomar conta das crianças, pois se assim tivesse feito elas estariam estudando no mesmo turno que vc – à tarde - e pela manhã vc ficaria responsável por tomar conta delas, daria um grande descanso a sua mãe. Vc me disse há poucos dias passados, que não tomaria conta de filho sozinha pq não foram gerados apenas por vc, concordo plenamente, com a sua decisão, desde que vc compreenda que não tomar conta sozinha não inclui sua mãe como participante. Cabe a vcs a busca pela melhor solução para que tds saiam ganhando.
Sabe Sheu gritar, se descabelar, xingar, desrespeitando-se inclusive na presença dos filhos e da mãe que busca numa agonia sem par a força que já há mto não tem mais para num esforço sublime tentar acabar com a feiúra do ato ignóbil, demonstra um total desrespeito, despreparo e incapacidade de vcs de serem filhos e pior ainda serem pais. Isso precisa ser resolvido, pois sua mãe a qualquer momento pode sucumbir pela tristeza de não ter o direito de viver a maturidade com liberdade e o cansaço que vcs a ela vêm imputando. Seu pai é que está certo. Vive a maturidade com liberdade e sem mta responsabilidade. Eu admiro esse comportamento dele e faço dele um exemplo do envelhecer feliz.
Mais uma vez reitero que sei que vc vai me detestar depois que lê isso, paciência, eu me sinto no direito de dizer tdo que lhe disse, pois sempre me considerei sua mãe tbm. E mãe tem todo direito de chamar os filhos à responsabilidade e pra mim chegou, basta de tanta criancice, seu tempo de cometer loucuras já passou, é hora de vc largar a barra da saia de sua mãe. Agora é ela quem está precisando de uma pontinha que seja da barra de sua saia, e vc com todo seu egoísmo de se fazer de menininha histérica, e ser uma mulher descompensada, não percebeu, ou se percebeu está sendo uma menina má e não lhe estende a mão.
Veja o caso de Tino, qdo ele me falou que estava com vontade de ir para Sampa, me perguntou o q eu achava e disse q tinha medo, eu dei todo apoio pois Tino estava me tirando o direito a liberdade de envelhecer com alegria, e ainda disse que era chegada a hora dele crescer, que mesmo com medo do desconhecido ele tinha que enfrentar os desafios. Ele está sofrendo mto lá em Sampa e eu sofro mais ainda com o sofrimento dele, mas agradeço a Deus até por esse sofrimento que a vida lhe impôs, pq a cada espinho que lhe sangra o corpo, sinto que ele cresce tanto espiritualmente tanto como cidadão do mundo, responsável, amadurecido, com muito mais compreensão da vida e valorizando cada vez mais a célula- mater do mundo - a família
Para encerrar esta carta que sei que é longa e cansativa quero que saiba que nada muda em mim em relação à vc –há de ser sempre minha filha. Vc e Léo, pois foi e sempre será assim que os verei. E continuarei orando mto por vcs, e que Deus lhe dê tolerância, calma e sabedoria para resolver todos os seus problemas q não são inerentes só a vcs. O que falta é ter equilíbrio, tolerância e compreensão.
Bjs te amo muiiiiiiiiiiiito, mas sei que esse amor a partir do momento que lê esta carta passa a ser unilateral.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
O TEMPO NÃO VOLTA

Mãe a cada ruga que vejo acentuar-se em seu rosto, percebo que o tempo é o senhor de tdo - não o chamo de inexorável pq estaria sendo injusta. O tempo nos dá oportunidades que jogamos fora por pura irracionalidade. Eu tive tempo sim, mãe, de pedir-te desculpas pelas lágrimas que minha insensibilidade deixou que rolassem em teu rosto liso, macio e não o fiz. Eu tive tempo mãe de pentear-te os cabelos ainda negros - hj tão alvos - qdo estavas com os braços cansados de trabalhar para ajudar meu pai no sustento da família. Eu tive tempo mãe, de te fazer-te uma massagem nos pés quando chegavas em casa com eles doloridos, por ficar em pé o dia tdo. Eu tive tempo mãe, de te dizer, por poucas vzs que fosse, que te amava, que te admirava, eu tive tempo sobrando mãe, pra te fazer tantos mimos... É mãe, eu tive tempo, muito tempo mesmo, mas infelizmente eu não usei, guardei dentro de mim por puro egoísmo e agora mãe o tempo cansou do pouco caso que dei a momentos tão valiosos, e partiu levando consigo o tempo que eu precisava para falar-te. Oh minha mãe querida! Nem ao menos para parar, se fosse possível o tempo, já seria tarde demais, pq não foi só o teu rosto que está mudado pelas marcas desse mesmo tempo, é a tua cabeça mãe, que mudou de tal forma que já não me conheces mais.
sábado, 7 de junho de 2008
EU SOU GENTE

Por favor, não entrem em minha casa, eu não gosto desse modo chocante como nos informam. Mil vezes o pingo da torneira mal enroscada que me atrapalha o sono, a esse rosário desfiado por vocês dia após dia. Quero dar mais risadas, ouvir mais músicas – sinto falta de uma parada musical na televisão. Quero assistir menos programas sensacionalistas – É hora de deixarmos as Isabelas – pobres vítimas da degradação humana - descansarem em paz. Vamos esperar que os culpados sejam julgados pelos seus crimes nos fóruns legítimos, não por multidões ensandecidas, ávidas por fazer justiça, ou quiçá, apenas pelo prazer da tragédia. Que prazer mórbido é esse que alenta as pessoas a ficarem ruminando um crime hediondo reprisando ininterruptamente para conquistar audiência em cima da desgraça alheia e com isso enriquecer à custa de nós, pobres infelizes, que não conseguimos rejeitar o farto banquete de horrores que nos oferece? Porque será que não nos proporcionam banquetes de otimismo? Será que somos tão bárbaros assim a ponto de deixarem exposto o bufê dos horrores por horas, dias e semanas a fio para degustarmos prazerosamente?
Chega! Eu enjoei. Quero me empanturrar é de amor, quero fazer desjejum de alegria, almoçar paz e jantar felicidade Quero dormir embalada na certeza de que ser feliz é não instigar, acusar, defender, nem condenar ninguém sem que me tenham concedido permissão de colocar a toga para prática do direito de verbalizar. Não suporto mais os sismos do meu Eu provocado pela falta de escrúpulo de pessoas insensíveis e avarentas. Tenho certeza que essa é a fórmula para viver sem abalar a minha estrutura emocional, e estar sempre jovem, sem o horror da lâmina fria de um bisturi inexorável.
Decidi - vou boicotar todo e qualquer tipo desse comercio sensacionalista. Vou dizer não a esses infelizes que enriquecem à custa do nosso gosto pela miséria alheia.
Basta de servir de iscas para banquetes de tubarões.
Eu quero me fartar é de saber que toda criança está na escola. Que o médico, do posto ou do hospital público, aliviou o sofrimento de todos que buscaram os seus serviços. Quero me fartar de saber que ninguém ficou nas filas ou nos corredores de hospitais a espera de que lhe viessem colocá-lo num leito, simples que seja, com lençóis limpos em vez de uma maca tosca ou um papelão estendido no frio e imundo chão. O corpo, curvado pela dor acrescido à visão de desespero estampada no rosto do pai ou mãe ou filho ou amigo... Seja lá quem for que o acompanha, pedindo clemência, rezando, tumultuando - sofre talvez mais que o doente – este, já pressentindo a morte lhe rondando – vê com pesar que o socorro não chegará a tempo - fica quieto, moribundo no seu canto, como se quisesse esconder daquele que pranteia por ele, o sofrimento. Pedindo a Deus quem sabe, em forma de murmúrio, conformação e força para os que ficam, suportarem a dor da sua partida para a eternidade.
Sou um grão de areia nesse mar de infâmia – Sou pusilânime, não tenho ânimo pra me juntar a outros grãos de areia e formar uma duna que soterre a negligência, a indiferença, dos responsáveis por tão grande infortúnio. Tenho consciência da minha total imobilidade Mas tenho todo o direito de não compactuar com a banalização do sofrimento que esses párias proliferam.
Não entrem na minha casa, eu não vos delego autorização para me banquetearem com o mesmo cardápio indigesto, e enjoativo todo dia.
Ah - querem apenas me falar de boas novas? Então entrem, sintam-se à vontade para informar que índios são brasileiros como eu. Ta certo, eu compro o jornal, aumento o som da tv para ouvir a notícia que o idoso está vivendo com dignidade, colhendo com lucro, tudo que plantou durante o longo tempo que semeou progresso nesse país. Eu nem preciso trocar de canal, todos as televisões estão noticiando a bravura e a honestidade daqueles que no dia a dia do seu trabalho nos protegem dos equivocados que pensam que roubar, matar, estuprar é a essência do poder e da felicidade.
Eu tenho fome de saber que os nossos representantes os quais depositamos nossa confiança e esperança de defenderem um país mais justo, estão retribuindo o nosso voto, legislando em causa pública, deliberando pela vontade daqueles que lhe outorgaram tamanho poder. Vou pular, cantar, saborear uma fatia de pizza - a mais deliciosa que tiver, quando der no noticiário que o congresso não é mais um forno, e foi proibido o uso da varinha mágica para transformar leis em discos de pizza recheados com falta de caráter, com favorecimentos e enriquecimento ilícito. Quero ouvir a maioria dos brasileiros - sei que a unanimidade é burra - se referirem ao presidente com admiração pela bravura ao deferir a lei que derruba e veta a criação de novos impostos multifacetados. Quero, vê, ouvir e lê, o respeito que se tem ao chefe do Estado pelo cargo que ocupa. Quero me deliciar de tanto ouvir falar que a justiça se faz plena e imparcial na minha pátria. Quero assistir a tv, lê o jornal ou ouvir o rádio noticiando o direito assegurado à casa própria para todos. Quero me fartar de saber que ninguém convive com esgotos a céu aberto. Quero que noticie na tv que os que cumprem suas penas perante a sociedade, o fazem em lugares pra gente, e não pra bicho pois só assim não se estará concebendo uma nova espécie de raça, tão medonha quanto infeliz! Quero me emocionar de alegria quando a imprensa noticiar que pedidos de desculpas no trânsito virou refrão e uma doce música aos ouvidos de quem os ouve. Enfim, quero a notícia publicada a toda hora, todos os dias todos os meses, todos os anos... Que a raça humana conscientizou-se que é gente que faz gente, que respeita gente, que protege a fauna, que protege a flora.
Eu sou gente!
E você?
sábado, 31 de maio de 2008
É FÁCIL SER FELIZ

quinta-feira, 8 de maio de 2008
O Guerreiro de Deus

Mãe de Gravata
Com licença Ronnie Von. Permita-me o uso da licença poética que leva o nome de um programa que você apresentou. Mas é por uma causa nobre. Aliás, é para que se faça uma justa homenagem a um cidadão que com dedicação, desprendimento e conformação virou uma mãe de gravata – nunca vi um nome tão apropriado para homens que tal qual você dedicou-se a cuidar dos filhos e ajudar nas tarefas domésticas.
Estou falando do meu Irmão Benedito – esse, não só é uma mãe de gravata, mas uma filha de bigodes.
Acredito que estou fazendo justiça ao prestar essa homenagem a essa criatura – embora tarde – mas como diz o velho jargão nunca é tarde para se reparar uma injustiça. E agradeço a Deus por ter me dado a permissão de prestar-lhe essa homenagem ainda em vida.
Benedito – Bené, como todos nós costumamos chamar-te. Você é um guerreiro de Deus. É fato que lhe vi cambalear algumas vezes, mas está tudo certo, errado seria se fostes toda uma vida uma rocha, uma fortaleza – não estou falando de nenhum ser sobrenatural, nem de super heróis das histórias em quadrinhos levados ao cinema em mega produções idolatrados pelas crianças, e adultos também - me incluo nesta última categoria, já que com os meus bem vividos 58 anos ainda continuo fascinada por estórias de super heróis. Sim, mas vamos voltar a falar do Guerreiro de Deus – o nosso super herói, que não voa, não escala edifícios, não tem máquinas motorizadas com tecnologia do futuro, nem porções mágicas, nem armas super poderosas. Suas armas são tão simples: aceitação, permissão, dedicação, poder de renúncia e muito amor que transborda e salta aos olhos diante de uma senhora indefesa, que não sabe quem é, quase que não fala – apenas canta, repetitivamente, ou balbucia? Na sua linguagem ininteligível como se fosse um besourinho zunindo, cumprindo o seu papel na natureza. Mas que você, somente você, consegue entender e discernir com tanta precisão, quando ela está alegre, quando está sentindo dor, enfim essa criatura tão amada, que tanto bem nos fez que como mãe muitas vezes nos livrou de castigos terríveis para não ver rolar as lágrimas de dor e frustração pelos nossos rostos, que tanta lição de amor, de cidadania de moral nos deixou como legados para nossas vidas. Hoje é ela quem te suga as forças. Outrora, já lá nos tempos longínquos, fomos nos que sugamos as entranhas dela a ponto de rasgar-lhe o peito. E quantas vezes saltaram-lhes as lágrimas ao rosto por te ver doente, e a nós, teus irmãos mais velhos? Sabe Meu Guerreiro, hoje fico a imaginar quantas lágrimas a fizemos derramar por pura estupidez. Infelizmente não me foi dada permissão de quedar-me perante ela, e aos prantos pedir-lhe perdão. Mas nem tudo está perdido, restou-me a felicidade de poder falar do meu amor por você, da minha admiração e dizer-lhe muito obrigada mano Guerreiro, por tudo que fez e faz por nossa “Menina Veneno” como diria se hoje aqui estivesse entre nós o nosso mano mais velho - Jorge. Não sei se hoje esse codinome caberia pra ela, talvez “Menina-viajante” se adequasse mais à sua realidade. Sinceramente, acredito que nós, os outros filhos, não teríamos essa capacidade se estivéssemos em condições físicas para cuidar-lhe. Sim, porque cuidar da nossa mãe não envolve só esforço físico, envolve renúncias, dedicação sem cobranças, e amor que mesmo no limite das suas forças e sanidade, emana de todo teu ser.
Às vezes fico observando você conversar com ela como se estivesse conversando com um filho bebê. Isso é mágico, é sobrenatural. Hoje a “Velha Nita” ou Dona Nitinha como você tão carinhosamente a chama é um apêndice do seu corpo. Acredito até que se um sente uma coisa o outro sente também, tanta é a comunhão dos corpos de filho que se tornou mãe e mãe que se transmutou em filho.
Eu sei Meu Guerreiro, que foi preciso renunciar a tantas coisas, buscar forças de onde nem você mesmo sabia onde e como tirar. Mas é claro que Deus esteve sempre atento, e não lhe deixou sucumbir. Combaliu por diversas vezes, mas nessas horas, como você escreveu uma certa vez uma mensagem para Cristiane – minha filha, lembra? Era uma véspera de Natal e você foi o amigo secreto dela - Deus te carregou no colo.
Sabe meu herói, a sua missão estava traçada desde quando seu espírito foi comungado com o seu corpo – Deus por certo disse “DESCE, FAZ TUDO QUE VOCÊ QUISER. TRABALHE, SORRIA, GRITE, ESBRAVEJE, BRINQUE, PULE, SALTE, FIQUE NERVOSO, RECLAME, CHORE... ENFIM, FAÇA TUDO QUE É INERENTE AO HUMANO, PORQUE NA HORA CERTA VOCE VAI ASSUMIR A MISSÃO QUE EU TE DESIGNEI. POR CERTO SERÁ ÁRDUA E MUTO DOLOROSA. MAS TENHA CERTEZA, SERÁ MAGNÂNIMA E GRATIFICANTE” E você fez de tudo, trabalhou, brincou, viajou, pulou, cantou, chorou, desesperou, duvidou contrariou, esbravejou foi arrogante, autoritário, cumpridor dos seus deveres para com a sua família e honrou enquanto pode todos os seu compromissos. Machucou muitas vezes alguém, se sentiu dono do mundo, e da razão. Mas tudo isso fazia parte do seu aprendizado para a missão que mais tarde Deus lhe cobraria.
E o retorno veio, é que o tempo de Deus não é igual ao nosso, e nós seres humanos somos “imediatistas”, queremos num curto espaço de tempo vê tudo solucionado. Somos homens de pouca fé.
A recompensa está chegando, não sei se você está percebendo, acredito que sim. Se não, vejamos:
Você foi abençoado com três de seus filhos – por enquanto, porque ainda faltam dois – ao passarem no vestibular em Faculdades públicas – além do ensino ser melhor. Será que se você estivesse empregado eles teriam tanta garra para correr atrás do futuro? Afinal eles sempre tiveram tudo, escola particular, alimentação a mais variada e rica possível, sem contar com a moradia espaçosa e confortável. Diz um velho ditado que tudo que é dado demais com muito trabalho por parte de quem dá, a pessoa beneficiada termina por se acomodar e não sair a procura da sua independência - é peculiar do humano. Quando Deus te chamou ao cumprimento da missão, muito embora de uma forma que nem você compreendeu - imagine os outros - Deus está sempre nos testando, vieram lamúrias, incompreensões, insatisfações e acusações pela perda do emprego por parte de todos, inclusive eu, engrosso essa lista. Pobres de nós! Que não conhecemos e nem procuramos se quer entender por pouco que seja a Obra Divina! E Deus entrou em providência para com a sua família – deu-lhes a garra de irem à luta “branca” em busca de um futuro melhor.
Continuando... Bené, o mundo espiritual é tão organizado que nós humanos jamais aprenderemos essa ordem, tamanha é a complexidade. Vejamos: éramos seis filhos. A mais velha apareceu com problemas no joelho, e praticamente ficou incapacitada. O próximo, Deus levou aos 53 anos sem saber da doença que acometeria nossa mãe. O próximo filho - outra mulher, caiu aos cinqüenta e seis anos, quebrou o fêmur - fratura arriscadíssima, corria o risco de nunca mais andar - e ainda quebrou o braço, outra fratura complicada que precisou também de cirurgia. Depois dessa, outra filha –Eu - aos 53 anos, um câncer que vem sendo até hoje monitorado, e não se pode dizer que esteja declarada curada. Teve trombose, e tem problemas sérios na coluna. O próximo irmão é uma pessoa que necessita de cuidados especiais, além de ser dependente, também tem problemas com várias doenças, sem contar que tem depressão-mórbida-crônica. Depois desse, o mais novo – Você, poucos problemas de saúde, teve a sorte de morar na Grande Salvador em um sítio, casa espaçosa - não interessa aqui detalhes da situação da mesma, o fato é que abrigou sua família por quase vinte anos com todo conforto – quem não gostaria de uma morada dessa? E agora quando três dos filhos já estão a meio caminho percorrido, Deus continuou entrando em providência com vocês – terão uma casa no centro e ainda terão outra em Lauro de Freitas. Talvez que o sítio já tenha cumprido o seu papel no tempo que se precisava de muito espaço. Tudo isso fruto do trabalho que Deus lhe permitiu ter até quando ele sabia que você poderia ficar, pois sua missão estava perto de lhe ser cobrada, e você não poderia estar empregado. Alguém precisaria demais de você, em tempo integral – O seu tesouro mais precioso depois de sua família - Nossa Mãe – alquebrada por tantos anos de trabalho pesado - carregar sacos de açúcar, trabalhar em pé no armazém, aturar a personalidade forte do nosso querido velho, e ter que caminhar e tomar decisões difíceis sozinha, sem o seu companheiro de mais de 34 anos. Os filhos reclamando a sua presença e ela era apenas uma, e todos a queriam. E por muitas vezes a fizeram chorar pelas brigas que travavam com ela pela disputa do seu colo – pobres órfãos-adultos-bebês”! Seria crível oh Deus! tanta irracionalidade em quem tem a capacidade do raciocínio? Como se não bastasse, o nosso irmão mais velho enveredou-se pelos caminhos do álcool que muitas vezes teve que ser internado em manicômios – Era um pedaço do coração dela que sofria e uma parte do seu cérebro que a tristeza ia apertando fazendo murchá-la. Ainda assim ela tentava ser forte, sem nosso pai tudo ficava mais difícil, porque ela já não tinha mais a presença alentada do Velho-Novo “Cota” - partiu muito cedo nosso “painho”, talvez que já avisado que você teria uma missão a cumprir e a presença dele talvez lhe dificultasse o cumprimento de tão sublime incumbência – para lhe ajudar na resolução dos problemas. E ficou sobrecarregada... E a cobrança vinha de todos os filhos . Eu ainda guardo na memória o medo estampado no rosto da minha mãe com a violência e autodestruição vindas a galope que ia tomando conta de Jorge. Veio nosso outro irmão, com problemas semelhantes – Mas esse não poderia ir embora, Deus o tinha escolhido como co-adjuvante. E que se faça justiça – filho aplicado e dedicado no seu papel de co-participante dessa missão para com a nossa Grande –menina - e as forças delas foram minando, o coração estava despedaçado, a dor das perdas, das saudades, e das nossas ingratidões iam pressionando cada vez mais o seu cérebro estiolado pela pressão de tamanho peso. Também vieram as doenças, aliás, doença é que não faltava nessa criatura - nossa “Mami” é um ser purificado através das doenças. Com tudo isso, só lhe restou fazer a viagem do mundo em tempo real para a volta ao mundo do tempo de criança. Ela decidiu esquecer para não sofrer mais, e com certeza pensou que não sofrendo, os filhos também não padeceriam ao vê-la prantear. Preteriu a vida em tempo real para o bem dos filhos. Chamou “Al” e”Zheimer” para ficarem com ela. Você bem sabe que ela não sofre, e isso pelo menos nos conforta.
Guerreiro, Guerreiro meu! Hoje eu gostaria de ser uma grande escritora, para deixar grafado aqui, coisas belas a seu respeito, mas escrevo com as minhas limitações de leiga e te digo: Muito Obrigada, meu irmão caçula, por cuidar com tanto amor, ternura, abnegação, sacrifício e renúncia da nossa querida mãe!
Te amo muito, e peço perdão pelas muitas vezes que o destratei, que não te compreendi.
Paz, harmonia, prosperidade... para você e toda sua família.
Força, coragem. Você já é um vencedor.
Beijos. Fica com Deus!