Pediram
para eu não divulgar, só depois da Vitória, mas eu resolvi fazer o contrário,
para que sirva de estímulo para muitos, que acham que por serem portadores de
câncer, já estão condenados a uma vida apática, sem sentido, sem prazer... A minha
nora com trinta e dois anos, foi diagnosticada com câncer de mama ductal
infiltrante - grau II. Como ser humano é claro que no momento que recebeu
a notícia desabou...Chorou o pranto dos que sabem do quanto essa doença,
é perigosa e talvez pela cabeça dela tenha passado toda a sua história de vida.
Estava acompanhada do esposo (meu filho) e da filhinha de um ano e nove
meses... Foi um duro golpe para os dois, ela chorava e ele tentando
reprimir as lágrimas que teimavam em rolarem pelo seu rosto, tirando
forças da fé, que ambos são movidos. Eles são nascidos na Bahia, mas, moram em
São Paulo. Meu filho ligou para Salvador, queria falar comigo e com o pai-
nesse momento a força que ele pediu a Deus deve ter achado que viria
através de nós. Como eu já tive câncer (fiz colectomia total, o médico
retirou todo o intestino grosso e o baço, imaginei logo todas as dores,
sofrimentos e decepções que eles estavam por passar). Eu tinha ido a salvador
no dia 31, fazer exames de rotina (desses nós nunca nos livraremos) soubemos da
notícia por volta das quatorze horas e em menos de vinte e quatro horas -chegamos
em São Paulo às onze horas da manhã- já estávamos com eles. Eu e meu
marido sabíamos das nossas limitações de saúde, portanto de todas as
dificuldades que iríamos passar, aqui em São Paulo eles não tem ninguém.
Pensamos em levá-la para a Bahia, mas os médicos acharam que pela gravidade do
tumor - nove centímetros - aqui teria mais recursos. E ficamos. As
dificuldade começaram a aparecer. Fazia uns dois meses que ele tinha trazido as
duas filhas do primeiro casamento para morarem com ele - A situação das meninas
em relação a quem as olhassem estava complicada e ele de comum acordo com a ex-
esposa resolveu trazê-las, até ela encontrar uma forma segura de deixar as
meninas enquanto trabalhava. Era primeiro de junho quando chegamos, um frio
intenso ao qual como baianos que somos não estávamos acostumados. Levantava às
cinco e trinta horas da manhã (para mim que não estava acostumada a levantar
cedo isso é madrugada- eu sou aposentada) para cuidar de colocar a neta do meio
para ir à escola - meu marido ficou com a cozinha, coitado, corria, pois o almoço
tinha que estar pronto impreterivelmente ao meio dia, quando a neta mais velha
tinha que estar pronta, pois a perua que a levava para a escola não poderia
esperar um minuto que fosse. Depois que arrumava a neta para ir à escola pela
manhã, meu marido ia levá-la - morria de dó dos dois - um frio intenso, ela
ainda dormindo agarrada á cintura do avô e lá iam os dois. Embora fosse muito
puxado para nós eu tinha um grande prazer em arrumar minha neta, pentear-lhes
os cabelos - essas duas criaturinhas sempre precisaram muito dos nossos
cuidados. Voltemos ao assunto principal - a doença da minha nora.
Com o frio e o próprio caminhar do tempo a coisa foi se agravando, as dores na
coluna pioraram e ela não conseguiu mais levantar da cama. Veio a primeira
quimio, (forte) por orientação da médica ela cortou os cabelos que eram bem compridos,
lindos!!! Fez um corte Chanel, que lhe
emprestou mais beleza, eu fiquei encantada com o novo visual. Mas se o remédio
é bom para cura, também é maléfico para o corpo e ela começou a sentir fortes
dores e umas comichões na cabeça. Pensou bem, e resolveu como toda pessoa
sensata, que estava na hora de decepar os cabelos - “Cabelo é raiz, e raiz cresce”-
para o trauma não ser maior. Tem vezes que ela não consegue nem ir ao banheiro
para fazer as necessidades fisiológicas e tudo é no improviso, não temos
pessoas capacitadas em casa para cuidar de doente acamado - o marido se opõe ao
uso da fralda descartável, acha que é traumático (pare ele) ela não faz restrições
me diz que o importante é a comodidade.... Eu o entendo, quando eu passei por
problema semelhante ele não tinha idéia do que o pai passava. Mas deixa pra lá, o que quero enfatizar de
fato, é a garra que ela tem de lutar. Ela ri, faz piadas comigo, diz que virei
Anastácia, e preta velha, não tem cerimônia para pedir nada ao sogro que
considera como um pai e carinhosamente o chama de “veio” Praticamente é ele
quem cuida dela, leva para as consultas, a quimio, os exames e cuida dela em
casa também, comida, na cama, virar etc.. Eu fico com a casa, a roupa e Maria a
netinha – uma criança com energia demais e muito traquina, teimosa, tem que
ficar de olho vinte e quatro horas, nunca tive um neto assim, vá entender logo
num momento desses? Certo dia meu filho colocou um DVD evangélico - são
evangélicos - e eu muito embora não tenha religião nenhuma, achei lindo ela
assistir todo o DVD cantando, colocando os braços prá cima como forma de
louvor, rindo, feliz na cama... Eu é que chorei - uma mistura de emoção e
vergonha pela minha fraqueza espiritual. A criança é quem mais sofre, pois como
viviam sós os três ela era apegada à mãe já que só ficavam as duas em casa numa
cumplicidade ímpar. Agora não pode estar
todo momento com a mãe, mas mesmo assim damos um vacilo, e ela sobe pelos pés
da cama, minha nora coloca-a na barriga, eu quero reclamar ela diz - deixe, e a
menina faz carinho, e dorme que nem um anjo farta de um puro e satisfeito
carinho. Mesmo com dores fortíssima não perde o foco na filha e me diz -
minha sogra faz uma sopinha de verdura para Maria, me dê os legumes que
eu corto aqui na cama mesmo. Que fantástico!!! Mas também é triste vê o marido
encostado à cama dela sentado no chão com a cabeça junto dela - pusemos uma
cama na sala para ela não ficar isolada no quarto. Bem, as outras netas foram
passar as férias de julho em Salvador e a mãe entendeu que não dava mais para
elas voltarem... Sei que realmente fez o certo, mas, me abalei profundamente,
foi como da vez que vieram estudar aqui.
Elas já estão novamente estudando na Bahia. O pai choroso, pois esperou
um dia morar com as filhas dele - o seu grande tesouro, Eu e meu marido
continuamos aqui, mas não sei até quando aguentaremos, pois a saúde já começa
a gritar - quero atenção... Minha nora achou uma solução precária - ir para
casa de uma amiga que ela morou quando veio para São Paulo - muito prestativa,
a amiga ofereceu a casa dela e os préstimos enquanto vamos á salvador cuidar da
saúde, mas a casinha é tão pequena, ela tem uma filhinha mais nova que a minha
netinha, tem o marido e um filho adolescente.
O que mais me emocionou foi a solidariedade dessa amiga, já esteve aqui
várias vezes, trouxe colchão, cobertor, e disse que cuidaria bem de minha nora até
nós nos sentirmos melhores e medicados para voltar. Que grandeza! Com toda
dificuldade que terá para acomodar uma pessoa doente em uma casa pequena
mostrou que tudo é possível quando se tem vontade de servir e o coração é
grande Meu filho está muito triste, pois a casa tem uma escada com muitos
degraus e vai ter dificuldades para carregar ela para ir fazer a quimio, as
consultas e os exames. Ela tem que sair pelo menos três vezes no mês. Já
mobilizamos toda a família em Salvador para a famosa “vaquinha” - fizemos
as contas e dá seiscentos reais de taxi. O que dói é ver meu filho estressado,
e agora triste por não encontrar outra solução que não seja essa dela sair para
uma casa de uma amiga onde terá dificuldade de mobilidade. Mas Deus é grande e
a amiga já disse que na hora chama algumas pessoas para carregá-la. Ou quem
sabe surge outra solução, mas a gratidão a amiga Adriana será eterna. Disso tudo
aprendi a mais bela das lições até hoje em minha vida: De onde nada se tem é de
onde mais brota solidariedade, compreensão dos nossos iguais. E a lição
espiritual da minha nora - a força e a fé - nunca imaginei que tivesse tanta.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário