sexta-feira, 20 de julho de 2012

A Menina-Deus-de-Caçolinha

Bem, mais um Diário de Lar: Como previsto, ontem foi um dia daqueles... Jarli chegou da quimioterapia, cansada, debilitada, estressada, nauseada, cheia de dor... Meu filho ligava por minuto para saber da esposa, o que a deixou mais irritadiça. Ele não entende, que quanto mais pegajoso mais estressa. Teve vezes que ela se negou a atender o celular e dissemos para ele que ela estava dormindo. Ele teimava em que acordássemos a criatura... De nada adiantava dizermos que ela estava bem na medida do possível, que fazia parte do tratamento todo o estresse... Jarli não faz uma simples quimio, a dela é a mais forte, pois precisa diminuir o tumor para poder extirpá-lo, ela já tem lesões nos ossos e por isso tem muita dificuldade de movimentar-se... Hoje, ela não conseguiu se quer ir ao banheiro e eu tive que colocar a "aparadeira" nela, um processo muito doloroso, porque é justamente no quadril onde a dor está atacando com mais intensidade e eu não tenho forças nem qualificação para levantar-lhe o quadril com o devido cuidado. Mas conseguimos... Até aí tudo estava indo bem, mesmo aos “troncos e barrancos” como costumamos dizer lá na Bahia. Mas, o grande problema que estamos enfrentando – digo, estamos, porque sou eu e meu marido - é Mariazinha. A criaturinha está cada vez mais levada da breca e malcriada - entendo que o gênio embirrado tem a ver, além da idade, com o afastamento da mãe – eram sozinhas, cúmplices, ela dormia durante o dia agarrada ao pescoço da mãe comia no mesmo prato... essas coisas de filho e mãe muito sozinhos em casa sem contato com o mundo lá fora. (sempre tive comigo que isso não era uma educação correta, criança tem que ter contato com outras crianças, com outro ambiente que não o de casa, e brincar. Não só assistir os enlatados da televisão fechada – os pais acham uma maravilha - A menina não fica parada um minuto, parece um aspirador de pó - não pode ver um minúsculo cisco – que vista boa, Amém!!! - Que pega e põe na boca. Quando quer uma coisa que não pode, se joga no chão, chuta – mas uma nova forma de chamar atenção que ela aprendeu - pula em cima da mãe, pega em tudo, abre gavetas... Se tirar os olhos de cima dela por um instante se quer, ela já está no sanitário aprontando, abrindo o box, mexendo na lixeira... Não gosta de roupas. Índio?????? Tudo bem que minha bisa-avó foi índia, mas tanta geração passou e me chega essa herdando os costumes? Não fica calçada – São Paulo está frio demais, passo o dia inteiro, calçando meias e sapatos nessa criança... Isso pegando outros pares de meia e sapato porque ela esconde e daqui que eu vá procurar ela já está fazendo outras travessuras. Sobe nas cadeiras, se dermos um vacilo sobe na mesa – ontem ela ligou o liquidificador, não tava com o copo, o pé (do liquidificador) saiu andando, ela levou um susto, começou a gritar e chorar, eu reclamei mas ao mesmo tempo achava graça porque embora ela tivesse levado um susto a cena foi hilária, não dava para ficar séria. Não pode ver prato de comida, faz um escândalo! Só quer tudo na mamadeira, eu forço uma colherada, ela cospe tudo em mim, na roupa, no sofá.... Tem uma mania de cuspir tudo e sair limpando com a língua. Hoje eu perdi a paciência com esse anjinho??? Sim, ela é uma benção quando está na boa – como dizem os jovens de agora - dócil, carinhosa, engraçada, vivaz... Dá vontade de colocar no braço apertar, beijar, afagar... Coisa mais gostosa!!! Parece uma bonequinha, e eu sei que vou sofrer quando chegar a hora de ir embora, me separar dela... Continuando sobre as peripécias desse anjinho... – Ela cuspiu o celular de avô- molhou todo - tem toc de limpeza, por isso quer “lavar” tudo, é bem verdade que não é lá uma água normal, mas é líquido não é? Então pra ela cuspe é água e das mais limpas e cheirosas. A sorte é que “lavou” o fundo do cel, se fosse o visor, era uma vez um celular... Chamei o avô que veio da cozinha de avental, pegou o pobre do celular naufragado na saliva para enxugar- A cena ensombraria qualquer quadro dos melhores de humor que já se tenha visto. E eu???????? Peguei a moleca –já estava no meu limite – sentei-a com toda força em uma cadeira e virei para a parede - Daqui você só vai sair depois de alguns minutos para refletir e não fazer mais isso – disse. Essa menina fez um escândalo, se descabelou, chutou, eu a colocava virada para parede, ela virava pra frente querendo descer da cadeira e esse nosso pega levou alguns minutos... Nisso a mãe falou – minha sogra, por favor, eu estou com dor de cabeça... Sei que eu falo alto, e estressada, imaginem? Mas não deu para segurar, respondi no ato – Infelizmente Jarli, a casa é pequena, você está aqui na sala, e eu não vou deixar Maria tocar fogo na casa e nem me chutar, tudo tem limite. Fiquei muito aborrecida na hora, mas depois entendi que ela pra falar isso estava no limite dela. – Não é fácil para uma pessoa sadia suportar o meu pega-pega com Mariazinha no dia-a-dia, imagine uma criatura que tinha feito uma sessão de quimio na véspera, cheia de dor, nauseada.... Fiquei com remorsos por ter respondido daquela forma para ela, mas eu também tenho pentelhos e os meus estão mais brancos do que normalmente estariam se me encontrasse num ambiente de normalidade. Espero e tenho fé que ela quando passar o efeito da quimio vai me entender. Sou avó, e os avôs estão no mundo para mimarem os netos, ou num português bem claro – ESTRAGAREM, e não para educarem, e eu a muito venho desempenhando esse amargo papel de ser mãe-avó das filhas do meu filho.
Desculpa Jarli, perdoa essa sessentona, que não tinha o direito de perder o controle da situação num momento tão delicado, Mas se isso redime a minha culpa um pouco, apenas digo – SOU HUMANA

Mais um Combate

São seis horas da manhã?(madrugada) JARLI E João SAIRAM CEDO, PARA O HOSPITAL - Segunda sessão de quimio - ela cheia de dores, mas não perde a vontade de ir em frente - imaginem que foram de taxi e vão ainda enfrentar uma fila danada, agora pensem no sofrimento dessa pequena-grande-mulher se fosse depender do transporte gratuito, daqui da prefeitura de Carapicuíba, uma cidade esquecida pelos governantes - talvez até que chegassem, mas cedo demais para a próxima quimio, jamais conseguiriam fazer a sessão marcada no horário e com certeza passariam o dia todo no hospital - São muitos pacientes e ela não poderia dar-se ao luxo de levarem ela no horário marcado. Mas Deus é Grande e colaboração não faltou de alguns da família e de outros tantos amigos que amigos não mediram dificuldade para fazerem a famosa "vaquinha" (é como chamamos na Bahia quando um grupo se dispõe juntar um pouquinho de dinheiro de cada e formar um "poucão" sem abalar as estruturas financeiras de ninguém) è lá se foi a nossa Heroína acompanhada do seu Anjo-da-Guarda - meu marido seu sogro- levantou primeiro que eu fez o coquetel laxante para ela, fez café e colocou para eles dois... A minha parte é cuidar de providenciar a roupa, os casacos, botas e os documentos além de colocar um iogurte na bolsa - É bem pouco em relação ao que o meu marido faz - mas é o que posso fazer. Agora vou tentar ver se Mariazinha dorme mais um pouco, chorou muito com a saída da mãe, meu filho, coitado um trapo humano de tanto trabalhar, pegar peso e sofrer com a doença da esposa. Bem ontem adiantei todo serviço da casa, mais uma vez zerei o cesto de roupas sujas, fiz a faxina da casa, - me esmerei no banheiro rsrs - pois sei que hoje vai ser um dia daqueles - Jarli passando mal, Mariazinha querendo colo, meu marido na cozinha e eu tentando acalmar a "Menina-Deus-de-Cauçolinha"... Que criaturinha abençoada!!! Literalmente. Agrega todos os predicados de uma criança na idade dela - um ano e onze meses - dócil, travessa, chorona, malcriada, tigelina (criança que pega em tudo e sobe nos lugares que uma pessoa jamais imaginaria que uma criança fosse capaz de tamanha façanha-falando nisso vou logo cuidar de jogar em cima da cama que durmo o colchão de casal que está em pé encostado no guarda-roupa - Esse é o colchão que o pai dorme com ela, já que a mãe não pode mais dormir junto dela (ETA colchão grande e pesado!!!) Se eu não fizer isso a "pestinha" vai subir na minha cama e tentar fazer do colchão um tobogã e só rola de ponta-cabeça. Ufa. Bem terminei o meu diário de Lar, agora com um frio da "peste" desse e sendo ainda seis e vinte e nove vou tentar dormir um pouco novamente na minha cama alta com dois colchões - é um desconforto, mas pelo menos tiro um cochilo tranquila, sabendo que tobogã de ponta-cabeça não vai rolar . Até amanhã, a essas alturas Jarli já está no hospital esperando distribuírem as fichas e com certeza ela não está entre as dez primeira, Imaginem se fosse depender do transporte da Prefeitura ou da compra de voto de algum político (não conheço ninguém que nos fizéssemos chegar até um deles e não vendemos voto) - Nossos títulos nem daqui são. Mas valeu o esforço da minha sobrinha, Ana Paula que se preocupou em enviar na ingenuidade dela, um e-mail para a prefeitura. Ana minha sobrinha muito amada - aqui em São Paulo ou na Bahia quanto ao problema de mobilidade gratuita é tudo a mesma coisa - péssimo, não funciona. Seu tio que acompanha Jarli ouve é história sobre isso, de pessoas que inclusive faltam ao trabalho porque se fosse depender da gratuidade dos transportes tanto de prefeitura, ONGS, ou igreja passariam o dia inteiro no trânsito?Hospital. De uma coisa tenho certeza, apesar do Hospital ser de referência, se dependesse unicamente da minha opinião não contaria um minuto em Le vá para Bahia, conheço inúmeros casos de câncer mais raros que foram tratados lá por Hospitais Públicos e as pessoas se curaram. (Na Bahia eu teria pelo menos seis carros da família à nossa disposição, pessoa para nos ajudar não faltaria inclusive meu braço- direito) minhas secretária que há muito já a tenho no coração como filha, contaria com a secretária de minha filha, e a solidariedade de toda minha família. Infelizmente eles moram aqui e ela gostou muito da onco dela. Vamos no "sacrifício" que tem horas que chega a ser desumano ficando aqui em São Paulo.

Guerreiro com Guerreiro fazerm Vitórias

Estou vivendo momentos de emoções muito fortes... Há uns dias minha nora vem percebendo que os cabelos estão caindo - Ela já os tinha cortados bem baixinhos, mas eu, como estou com “deficit” na visão, não conseguia enxergar e dizia que ela estava cismada, que os cabelos que ela via eram normais cair assim como os de qualquer pessoa caem. - Não minha sogra, - dizia ela, os meus estão caindo muito, é que a senhora não consegue enxergar direito. Mesmo assim eu dizia que era somatização dela pelo que ouvia falar do que poderia acontecer com o tratamento quimioterápico... Estava enganada... Hoje ela foi tomar banho e me chamou, confesso que tentei disfarçar o quanto pude e até ensaiei uma brincadeira insossa. Os cabelos dela realmente estavam caindo, e muito. Ela passava a mão na cabeça em baixo do chuveiro e vinha cheia de fios de cabelos. Aquela visão para mim foi inquietante, muito embora eu já soubesse que isso iria acontecer. Mas, confesso que o que me espantou mais foi a tranqüilidade e serenidade dela. Com as mãos cheias de cabelos me disse – Minha sogra, quero que meu sogro mande chamar o rapaz aqui em casa para passar a máquina, na minha cabeça vou raspar todo, esses cabelos caindo pelo meu corpo vão me deixar nervosa, estressada... Dito e feito, meu esposo foi falar com o cabeleireiro que agendou para amanhã. Estou um pouco intranquila, pois amanhã é também o dia da segunda sessão de quimioterapia e ela fica muito debilitada, mas quer rapar amanhã assim mesmo. Fez questão de tirar umas fotos hoje à tarde antes de ficar careca e me pediu que publicasse? Choquei... Ela me disse - depois vamos publicar eu careca, quero isso como prova do depoimento da minha VITÓRIA!!!!!!! - Isso, minha guerreira, faço com o maior amor, você tem me ensinado tantas lições de FÉ, GRANDIOSIDADE, DESPREENDIMENTO, CERTEZAS, CONFIANÇA... Que me apequeno diante tanta FORÇA que vejo sair de uma criatura aparentemente tão frágil, tão mignon, com tanta alegria, pra enfrentar o árduo caminho do tratamento, quando vejo tantos por aí chorar por motivos tão menores, que me quedo a pensar: - Deus tenho certeza que Vós bateu um dia à porta de Jarli e ela Te reconheceu, e Te acolheu, e agora é Tu Senhor que a carregas nos Teus braços, nesses momentos tão dolorosos, embalando-a fazendo com que ela consiga sorrir, sorrir, sorrir...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O ÁS de Ouro


















Pediram para eu não divulgar, só depois da Vitória, mas eu resolvi fazer o contrário, para que sirva de estímulo para muitos, que acham que por serem portadores de câncer, já estão condenados a uma vida apática, sem sentido, sem prazer... A minha nora com trinta e dois anos, foi diagnosticada com câncer de mama ductal infiltrante - grau II.  Como ser humano é claro que no momento que recebeu a  notícia desabou...Chorou o pranto dos que sabem do quanto essa doença, é perigosa e talvez pela cabeça dela tenha passado toda a sua história de vida. Estava acompanhada do esposo (meu filho) e da filhinha de um ano e nove meses... Foi um duro golpe para os dois, ela chorava e ele tentando reprimir  as lágrimas que teimavam em rolarem pelo seu rosto, tirando forças da fé, que ambos são movidos. Eles são nascidos na Bahia, mas, moram em São Paulo. Meu filho ligou para Salvador, queria falar comigo e com o pai- nesse momento  a força que ele pediu a Deus deve ter achado que viria através de nós.  Como eu já tive câncer (fiz colectomia total, o médico retirou todo o intestino grosso e o baço, imaginei logo todas as dores, sofrimentos e decepções que eles estavam por passar). Eu tinha ido a salvador no dia 31, fazer exames de rotina (desses nós nunca nos livraremos) soubemos da notícia por volta das quatorze horas e em menos de vinte e quatro horas -chegamos em São Paulo às onze horas da manhã- já estávamos com eles. Eu e  meu marido sabíamos das nossas limitações de saúde, portanto de todas as dificuldades que iríamos passar, aqui em São Paulo eles não tem ninguém. Pensamos em levá-la para a Bahia, mas os médicos acharam que pela gravidade do tumor  - nove centímetros - aqui teria mais recursos. E ficamos. As dificuldade começaram a aparecer. Fazia uns dois meses que ele tinha trazido as duas filhas do primeiro casamento para morarem com ele - A situação das meninas em relação a quem as olhassem estava complicada e ele de comum acordo com a ex- esposa resolveu trazê-las, até ela encontrar uma forma segura de deixar as meninas enquanto trabalhava. Era primeiro de junho quando chegamos, um frio intenso ao qual como baianos que somos não estávamos acostumados. Levantava às cinco e trinta horas da manhã (para mim que não estava acostumada a levantar cedo isso é madrugada- eu sou aposentada) para cuidar de colocar a neta do meio para ir à escola - meu marido ficou com a cozinha, coitado, corria, pois o almoço tinha que estar pronto impreterivelmente ao meio dia, quando a neta mais velha tinha que estar pronta, pois a perua que a levava para a escola não poderia esperar um minuto que fosse. Depois que arrumava a neta para ir à escola pela manhã, meu marido ia levá-la - morria de dó dos dois - um frio intenso, ela ainda dormindo agarrada á cintura do avô e lá iam os dois. Embora fosse muito puxado para nós eu tinha um grande prazer em arrumar minha neta, pentear-lhes os cabelos - essas duas criaturinhas sempre precisaram muito dos nossos cuidados. Voltemos ao assunto principal  -  a doença da minha nora. Com o frio e o próprio caminhar do tempo a coisa foi se agravando, as dores na coluna pioraram e ela não conseguiu mais levantar da cama. Veio a primeira quimio, (forte) por orientação da médica ela cortou os cabelos que eram bem compridos, lindos!!!  Fez um corte Chanel, que lhe emprestou mais beleza, eu fiquei encantada com o novo visual. Mas se o remédio é bom para cura, também é maléfico para o corpo e ela começou a sentir fortes dores e umas comichões na cabeça. Pensou bem, e resolveu como toda pessoa sensata, que estava na hora de decepar os cabelos - “Cabelo é raiz, e raiz cresce”- para o trauma não ser maior. Tem vezes que ela não consegue nem ir ao banheiro para fazer as necessidades fisiológicas e tudo é no improviso, não temos pessoas capacitadas em casa para cuidar de doente acamado - o marido se opõe ao uso da fralda descartável, acha que é traumático (pare ele) ela não faz restrições me diz que o importante é a comodidade.... Eu o entendo, quando eu passei por problema semelhante ele não tinha idéia do que o pai passava.  Mas deixa pra lá, o que quero enfatizar de fato, é a garra que ela tem de lutar. Ela ri, faz piadas comigo, diz que virei Anastácia, e preta velha, não tem cerimônia para pedir nada ao sogro que considera como um pai e carinhosamente o chama de “veio” Praticamente é ele quem cuida dela, leva para as consultas, a quimio, os exames e cuida dela em casa também, comida, na cama, virar etc.. Eu fico com a casa, a roupa e Maria a netinha – uma criança com energia demais e muito traquina, teimosa, tem que ficar de olho vinte e quatro horas, nunca tive um neto assim, vá entender logo num momento desses? Certo dia meu filho colocou um DVD evangélico - são evangélicos - e eu muito embora não tenha religião nenhuma, achei lindo ela assistir todo o DVD cantando, colocando os braços prá cima como forma de louvor, rindo, feliz na cama... Eu é que chorei - uma mistura de emoção e vergonha pela minha fraqueza espiritual. A criança é quem mais sofre, pois como viviam sós os três ela era apegada à mãe já que só ficavam as duas em casa numa cumplicidade ímpar.  Agora não pode estar todo momento com a mãe, mas mesmo assim damos um vacilo, e ela sobe pelos pés da cama, minha nora coloca-a na barriga, eu quero reclamar ela diz - deixe, e a menina faz carinho, e dorme que nem um anjo farta de um puro e satisfeito carinho. Mesmo com dores fortíssima não perde o foco na filha e me diz -  minha sogra faz uma sopinha  de verdura para Maria, me dê os legumes que eu corto aqui na cama mesmo. Que fantástico!!! Mas também é triste vê o marido encostado à cama dela sentado no chão com a cabeça junto dela - pusemos uma cama na sala para ela não ficar isolada no quarto. Bem, as outras netas foram passar as férias de julho em Salvador e a mãe entendeu que não dava mais para elas voltarem... Sei que realmente fez o certo, mas, me abalei profundamente, foi como da vez que vieram estudar aqui.  Elas já estão novamente estudando na Bahia. O pai choroso, pois esperou um dia morar com as filhas dele - o seu grande tesouro, Eu e meu marido continuamos aqui, mas não sei até quando  aguentaremos, pois a saúde já começa a gritar - quero atenção... Minha nora achou uma solução precária - ir para casa de uma amiga que ela morou quando veio para São Paulo - muito prestativa, a amiga ofereceu a casa dela e os préstimos enquanto vamos á salvador cuidar da saúde, mas a casinha é tão pequena, ela tem uma filhinha mais nova que a minha netinha, tem o marido e um filho adolescente.  O que mais me emocionou foi a solidariedade dessa amiga, já esteve aqui várias vezes, trouxe colchão, cobertor, e disse que cuidaria bem de minha nora até nós nos sentirmos melhores e medicados para voltar. Que grandeza! Com toda dificuldade que terá para acomodar uma pessoa doente em uma casa pequena mostrou que tudo é possível quando se tem vontade de servir e o coração é grande Meu filho está muito triste, pois a casa tem uma escada com muitos degraus e vai ter dificuldades para carregar ela para ir fazer a quimio, as consultas e os exames. Ela tem que sair pelo menos três  vezes no mês. Já mobilizamos toda a família em Salvador para  a famosa “vaquinha” - fizemos as contas e dá seiscentos reais de taxi. O que dói é ver meu filho estressado, e agora triste por não encontrar outra solução que não seja essa dela sair para uma casa de uma amiga onde terá dificuldade de mobilidade. Mas Deus é grande e a amiga já disse que na hora chama algumas pessoas para carregá-la. Ou quem sabe surge outra solução, mas a gratidão a amiga Adriana será eterna. Disso tudo aprendi a mais bela das lições até hoje em minha vida: De onde nada se tem é de onde mais brota solidariedade, compreensão dos nossos iguais. E a lição espiritual da minha nora - a força e a fé - nunca imaginei que tivesse tanta.