sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vai sobrar para FHC

Vai sobrar para Fernando Henrique

(Coluna do Correioweb, 14/10/2002)

Ricardo Noblat

De hoje até o próximo dia 25, estará no ar em todos os aparelhos de rádio e de televisão do país o confronto entre o medo e a mudança. Lula simboliza a mudança, quer se goste dele ou não. Para impedir que ele suceda o presidente Fernando Henrique Cardoso, o candidato José Serra esgrimirá com o medo.

É lógico que Serra não aposentará suas principais propostas de campanha. E que insistirá com aquela eleita por seus assessores como a mais sedutora – a da criação de milhões de empregos novos. Mas os programas de governo dos dois candidatos já foram explorados à farta no primeiro turno.

No segundo turno de uma eleição as pessoas não votam em programas de governo. Nem se deixam influenciar tanto assim pelas novas companhias apresentadas pelos candidatos. Elas costumam votar no que os candidatos representam. Ou no que acham que eles representam. Esse é o ponto essencial.

Lula é percebido como o candidato que mudará o rumo do país caso seja eleito. Quase 80% dos eleitores querem que o rumo do país de fato seja mudado. Por mais que se esforce para esconder sua própria identidade, Serra é percebido como a continuidade da administração de Fernando Henrique.

Se os eleitores repelem a continuidade e pedem a mudança, como Serra poderá operar o milagre de ser eleito mesmo assim? Só acenando com o perigo da eleição de um candidato despreparado, capaz de afugentar os investidores estrangeiros e de empurrar o Brasil para a beira do abismo.

É a versão demonizada de Lula que Serra oferecerá ao país pelos próximos 12 dias. Ele não tem outra saída para tentar vencer. Simplesmente só tem essa. Se ele imaginasse que, derrotado agora, no futuro poderia retomar o sonho de ser presidente da República, talvez adotasse outro comportamento.

Mas, não. Serra concluiu que é agora ou nunca. Se Lula se eleger, tentará se reeleger. A derrota de Serra será a derrota do eixo paulista que hoje manda no PSDB. Emergirão novos líderes dentro do partido – entre eles, Aécio Neves, eleito governador de Minas Gerais, e Tasso Jereissati, eleito senador pelo Ceará.

O PT sempre foi menor do que Lula. E Lula sempre foi de forma inquestionável o dono do partido. Serra nunca foi dono do PSDB e sequer teve o tamanho dele. No rastro de sua candidatura à presidência da República, o partido minguou. Então só lhe resta vencer ou vencer. Por cima ou com o uso de pau e pedra.

Foi com o emprego da força que Serra se impôs como candidato do PSDB. Depois ele voltou a apelar para a força quando a ex-governadora Roseana Sarney atravessou seu caminho. Novamente pela força destruiu a candidatura de Ciro Gomes. Dessa vez, registre-se, com a ajuda indispensável do próprio Ciro.

Se deu certo ate aqui, e se outra alternativa não lhe resta, Serra apelará novamente para a força. E ponto final. Deverá sobrar para Fernando Henrique. Ele sobreviveu ao primeiro turno mais ou menos incólume. Para responder aos ataques de Serra, Lula devolverá Fernando Henrique ao centro do palco.

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