E eles voltaram

Que bom que eles estão de volta! Do alto do terceiro andar do meu apartamento abro a janela e vejo eles. Alegres, contentes, despreocupados, de bem com a vida. A Avenida D.João VI parece até que sorri, com sua língua imensa de asfalto a lamber as sombras deles como um cão a fazer festa com a chegada do seu dono, e eles fazendo algazarras, num folguedo contagiante, próprio do vigor da idade bela, eu da minha janela a observar encantada, embasbacada, aquele misto de irresponsabilidade recheado com ansiedades, sonhos, que ainda irão sonhar... Eles estão voltando... Irreverentes, abusados,.. Mesmo assim é bom tê-los de volta, é uma festa, a algazarra deles me contagia, me faz viajar no tempo, naquele vagão do tempo onde só era permitido viajar a esperança, o futuro, a despreocupação, o destemor, a inquietação a ansiedade, a dúvida a paixão. - Sr Passado, sua poltrona não é nesse vagão, - Desculpe sra Paciência, mas não pode viajar aqui - Sra Experiência, permita-me dizer-lhe que nesse vagão a senhora não pode viajar porquê há de sentir-se mal com tanta bobagem dita por esses passageiros - Sr Amor... Senhor Amor, eu sei que o senhor, não se incomodaria de viajar junto com eles, mas temos um lugar vip para o senhor - o vagão do sossego. Dona Paixão vai tentar nessa viagem encabular a todos, e o senhor por certo perderia essa batalha, pois ela é por demais arrebatadora, e eles são jovens demais para entender que o senhor e ela são como a água e óleo, não se misturam. E lá vai o trem... E eu viajando da minha janela, e eles falando alto, alegres, perturbando os transeuntes, tirando o sossego da gente, eles estão voltando... Que bom que os estudantes voltaram!