terça-feira, 31 de julho de 2007

CARTA À COMADRE CAMPESINA

Comadre Campesina

Sei que a sua sabedoria não tem limites, mesmo sendo uma camponesa, sua capacidade em enxergar o mundo é algo impressionante! Assim você se referiu à infâmia – “É viver no desamor, no vício, na miséria... Mas, quando Clarice Lispector disse -“É uma infâmia, morrer não se sabe quando nem onde” - eu, como falei a amiga Mariana, interpretei que era uma infâmia para os que ficavam. Mariana, no seu blog, alcooledirecao, faz a pergunta - Qual é o tamanho da sua dor? - e ainda vai mais longe ao dizer que as pessoas acham que consolam quando falam que outros já passaram por perdas maiores. E ela segue dizendo - “Que compaixão, que solidariedade é esta que pode dar consolo e alivio, pelo tamanho da miséria alheia!” Então, não é uma infâmia essa perda inesperada e brutal? Como ela mesma disse, isso não é uma miséria? Acredito sim, que existam pessoas que tendo vivenciado etapas nas sua vidas tão doridas canalizaram o sofrimento para transmutação do seu Eu, redescobrindo-se no mais nobre de todos os sentimentos: o de Doar-se.

- A Dor pela Doação! Infelizmente, nesse universo tão desigual, não nos cabe conjeturar que toda essa parcela de humanos, tendesse a ter a mesma reação de comportamento.

Há os que se elevam na plenitude da doação, há os que caminham ao lado do tempo, e esse, numa cumplicidade de companheirismo transforma o sofrer em apenas lembranças dolorosas, e há os que ficam parados, juntos à tocaia do passado como se assim estivessem em perfeita comunhão com seus sentimentos, e não percebem a própria tristeza que irradiam à sua volta, pois o passado como o lince que rápido salta à sua presa, também os prende às suas garras, imobilizado-os por ilusões de benquerenças, de perdas, de alegrias, de tristezas... Pobres vítimas! Presas à sua dor, seu amor, sua felicidade passageira esquecem que o tempo, esse espaço que não pára, está ali bem próximo a lhes chamar para irem em busca do futuro, porque como um mágico que encanta, transformou o passado em presente e só elas não percebem a plenitude da liberdade. Livres, e não conseguem caminhar, atrofiadas pela dor, a tristeza, a alegria que ainda sentem do que viveram no passado. Sentimentos eternos; e que por serem eternos se renovam em formas diferentes dentro do tempo e do espaço.

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