Mãe é uma só que a gente tem no mundo.
Mãe é o amor mais puro e mais profundo.
Oh minha santa mãezinha que tantas vezes eu fiz chorar,
Aqui venho para dizer-te que sempre, sempre hei de te amar!
Mãe, pensar que um dia poderás faltar-me,
Mãe pensando nisso vivo a lamentar-me.
Por isso nas minhas preces tenho pedido ao Criador
Que nunca, nunca me falte,
O teu carinho, o teu amor!
(interpretação de Francisco Petrônio)
Mãe, mesmo tendo partido para outro Plano continuo com as minhas preces - “Que nunca, nunca me falte, o teu carinho, o teu amor”.
Minha mãe cantava muito essa canção, eu já entrando na adolescência, ficava encantada com a interpretação que ela dava a essa música. Quando o estado dela se agravou, mesmo ainda não tendo ido para o hospital resolvi gravar em meu MP3 (MP3 mesmo, para ouvir música só gosto de P3)todas as músicas que escutava ela cantar na minha meninice e adolescência e essa era uma das minhas favoritas.
Coincidentemente enquanto aguardava a hora de entrar no domingo para vê-la (mesmo o horário de visita fosse das 11 às 12 h cheguei cedo, pois no dia anterior o quadro dela tinha se agravado muito) eu estava com meu MP3 ligado ouvindo essas músicas. Quando deu 11.15 h abriram as portas da UTI - eu já achando estranho a demora e a porta fechada à chave.......... O médico me chamou e João para dar a notícia da sua ida. Eu me desesperei, gritei, chorei, briguei com ele, pois sabia que tinha familiares dela na sala de espera e não permitiu que ela partisse com as nossas preces nem com as nossas mãos unidas. Só depois nos chamou. Deus, Oh Deus liberta de mim esse sentimento de raiva! Ajuda-me a entender por que esse infeliz fez isso, se um dia antes o outro plantonista permitiu que entrássemos eu, meu irmão, minha irmã e minha sobrinha, pois percebeu que ela podia ir embora naquele momento? Fiquei arrasada. Descontrolei-me, sai correndo para o leito da minha mãe e me deparo com o quadro mais triste e dolorido que já senti em toda a minha vida: Fora crível Oh Deus, minha mãe toda largada, descoberta, ainda intubada, e com aquela maldita máquina ligada, com tudo zerado - Eu acredito que essa máquina não foi uma invenção direcionada por Deus ao homem – prolongar sofrimento? Não sei de onde me veio tanta coragem e força num momento que estava totalmente fragilizada.......... Arranquei-lhe o tubo do oxigênio, puxei os fios daquela máquina fria, insensível, que só me mostrava zeros e listas verdes em estado de inércia e aquele bip que nunca me pareceu tão ensurdecedor e agonizante , piscando, apitando, piscando, apitando......... Como se fosse uma macha fúnebre – é assim que vou lembrar para o resto da minha vida desse som.
Sei que minha atitude foi infantil, deseducada para o local e quiçá irracional, uma vez que, a sua alma já se tinha desprendido do corpo e esse já não sofria mais......... Ma, pra mim era como se tivesse libertando-a de vez de todo sofrimento carnal. Repreenderam-me, disseram-me que eu não tinha credencial para fazer esse procedimento. Apenas respondi: - Agora que vocês chegam? A mãe é minha, o sofrimento é meu, e o respeito ao corpo que vocês juraram ao formarem-se, não cumpriram. Pois que se dane a vil burocracia, pelo menos é um trabalho a menos pra vocês tão insensíveis.................
A morte pra mim é uma coisa natural, embora sofrida, é bonita quando se parte com o dever cumprido e junto dos que amamos por isso não me conformei de não estar de mãos dadas com ela e orando enquanto ela se ia, já que Deus tinha me dado a felicidade de estar lá esperando........... Eu tive esse privilégio com a minha sogra - o plantonista avisou que ela estava falecendo, perguntou se alguém queria entrar (fora do horário de visita) eu disse que sim................. Ela partiu de mãos dadas comigo enquanto eu orava. Assim, esperava que o médico que estava no plantão tivesse a mesma atitude de solidariedade no caso da minha mãe............. Esqueci que as pessoas são diferentes, existem racionais e irracionais, frias e sentimentais, solidárias e desumanas...
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